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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sou tão afoita
que uma vírgula me desintegra.
Sou desarvorada
extraio versos dos escapes,
sou diversas
procuro ondes (às vezes odes),
conheço a mordedura dos acenos,
antecipo inflamações.
Mas sei que Deus está no perigo e eu
eu preciso de falhas.
Preciso da tinta descascada,
da aspereza que esqueceram de polir,
do defeito que fugiu aos olhos.
Antes o risco,
antes a inquietação e suas agulhas
do que amarrar-se à permanência
e murchar-se.
Antes o precipício
do que a clausura
entre paredes com olhos
quando estamos nus.
Antes ser cortada,
jogada aos pedaços no caldeirão do tempo,
amolecer na sua cozedura,
inchar-me de idades,
corar de amplitude
do que saber-me remota por imobilidade
e dura e seca por ignorância.

(CARMEM VASCONCELOS)

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